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domingo, 21 de novembro de 2010

Ouricuri-PE: O drama das secas e o matuto

Fonte:Lvro "Ouricuri:História e Genealogia, Raul Aquino, 1982.

Quando se fala em sertão, a idéia que surge é a da área da seca. O ano do sertanejo tem dois períodos, o do inverno e o do verão.Este se inicia em junho e se prolonga até dezembro, quando reinicia o inverno. Durante o verão, o sol é escaldante, ao meio-dia, as árvores dão a impressão que morreram, a caatinga despida, as folhas secam e se precipitam ao chão ou levadas pelos ventos.
Quando chove a caatinga se transforma como por encanto, cria nova roupagem em poucos dias, a babugem pinta de verde o solo, o Jericó se arrepia, brotam o marmeleiro, a catingueira, a baraúna, enfim, a rama surge para a alimentação do criatório. Nossa fauna e flora se alegram! O homem feliz, se movimenta em direção às roças para o plantio. Mas, se a chuva não vêm, surge o maior problema, o da seca.
O gado para sobreviver é levado para as mangas que mantêm pastagens, embora seca, tendo ainda plantas forrageiras, palmlternados.
O matuto:
Matuto é a designação que recebe em Ouricuri, o homem do campo. Não há sentido depreciativo. O termo camponês não é utilizado. O matuto em geral, possui boa compleição física. È capaz de andar descalço no campo sem se ferir. Possui sapatos para uso apenas nos dias de festa. A partir dos 08 anos de idade, ajuda o pai nos serviços agropastoris. Corta lenha, monta cavalo, vigia as plantações contra passarinhos, e lida com vacas e cabras. Dorme cedo e às 05 horas já está de pé. Têm como refeição diária o feijão temperado com toucinho, farinha, carne e ovos para o almoço e jantar. No desjejum usa cuscuz, queijo, jerimum e café simples ou com leite. Pratos prediletos, coalhada, queijo fresco, chambaril, panelada, umbuzada, maxixe e piquí. Nas viagens, conduz alforges com frita, passoca ou farinha pura, queijo, rapadura e uma cabaça d’água. Um fato de realce no matuto é o seu espírito hospitaleiro. Sem constrangimento convida qualquer pessoa sua mesa. Oferece o que tem de melhor para comer, uma rede para repouso e produtos de sua lavoura. O home do campo tem fé em Deus, no padroeiro São Sebastião e ama sua gleba. A maior preocupação é ver a chuva cair e a lavoura crescer. Muitas vezes, devido aos problema das secas, vai tentar melhor vida no sul ou sudeste do país, mas muitas vezes quando sabe noticias das chuvas, alguns acabam voltando.
Homem de trabalho, maneja a enxada o dia inteiro e à noite não demonstra cansaço. Sofre nas secas e quando há inverno, a colheita é vendida por baixo preço aos intermediários. Os preços caem para seus produtos e o matuto não tem onde estocá-los a espera de melhor preço. O comerciante intermediário arranca-lhe o suor da cara na mais cínica ausência de escrúpulos e o matuto continua pobre., esperando o inverno para lavrar a terra, preparar, plantar, limpar mais uma vez com enxada, colher, separar , ensacar e finalmente vender o feijão macassa, milho, mamona , farinha, jerimun, melancia e outros produtos de sua lavoura . Sempre guarda um pouco desses produtos para alimentação no período de entre-seca.

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